domingo, 6 de dezembro de 2015

Dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses

In Jornal Record de 5 de Dezembro de 2015

Os bombeiros da Champions

50 anos de assistência aos jogos do Benfica
Jorge Fernandes é o orgulhoso comandante dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses (BVL), corporação que celebra 105 anos no próximo dia 12. "Aqui é dar tudo e não receber nada", sublinha o responsável de 52 anos (bombeiro desde os 15), destacando a ação da sua corporação 24 horas por dia. "As pessoas só se lembram dos bombeiros quando há cheias e incêndios, mas na realidade 95 por cento da nossa atividade é emergência médica e socorro". É com base nesse propósito que os BVL mantêm uma estreita colaboração com os grandes clubes de Lisboa, Benfica e Sporting – com as águias já é uma colaboração de 50 anos.

"Há uma maior aposta do Benfica e do Sporting em termos de prevenção", adianta Jorge Fernandes, resumindo a estratégia e a filosofia das suas operações: "O quartel muda para o estádio. Se estivermos preparados para o pior, conseguimos lidar com o imprevisto." Nos jogos grandes, como o próximo Benfica-At. Madrid, para a Champions, os BVL empenham todo o efetivo (65 elementos), cuja mais-valia é a sua competência em emergência médica.

Foi no futebol que a corporação lisboeta encontrou forma de fazer face às despesas. "Temos um orçamento mensal de 25 mil euros e os jogos cobrem cerca de 50 por cento deste valor. Pior são os meses em que não há futebol", lamenta o comandante dos Voluntários Lisbonenses, explicando os gastos com combustíveis, seguros, despesas com o pessoal profissional da corporação, etc. E sem ajudas do Estado. Apesar do sufoco, a Associação presidida por Garcia Correia mantém-se firme no objetivo de construir um novo quartel, na zona do Rego, com a "ajuda de alguns mecenas".

Um jogo para a história

Ponto alto da vida dos BVL foi a final da Liga dos Campeões em 2014, no Estádio da Luz, entre Real Madrid e At. Madrid. Uma operação que envolveu quase 90 efetivos, entre médicos, enfermeiros e técnicos bombeiros. Nesse dia foram prestadas 56 assistências na área do estádio, mais do que as registadas em toda a Lisboa (52). "Essa final pôs-nos um problema diferente, pois havia muitas restrições ao trânsito. Decidimos montar equipas de bicicleta, e a verdade é que fizemos uma intervenção no Centro Comercial Colombo dessa forma, chegando lá primeiro que o INEM", diz com orgulho Jorge Fernandes.
Quer na Luz, quer em Alvalade, o dispositivo montado pelos BVL permite colocar uma equipa de assistência num local qualquer em menos de um minuto e a eficácia desta resposta tem muito a ver com a perfeita articulação que existe com a PSP e as entidades privadas que fazem segurança (stewards) no Benfica (Prosegur) e Sporting (Arko). Ainda assim não se evitam acidentes fatais, como os dois óbitos na época passada (um adepto do Benfica que morreu já no hospital e outro que faleceu em Alvalade), o período "mais negro" na história da corporação. "Em Alvalade tivemos quatro paragens respiratórias no ano passado e três sobreviveram, sem sequelas. Um dos senhores, aliás, agradeceu-me pessoalmente, e isto é que vale tudo", prossegue Jorge Fernandes. "Nem nós nem ninguém consegue ser Deus, mas temos noção daquilo que é a nossa função e a nossa obrigação."

Plano de ação ao pormenor

Os BVL mobilizam todo o efectivo (60 a 65 elementos) para os jogos grandes na Luz e Alvalade. Ao todos são 17 equipas, que incluem ainda três médicos e quatro enfermeiros.

AMBULÂNCIAS Em jogos de risco elevado (Champions, clássicos ou dérbis) são mobilizadas sete ambulâncias. Três possuem equipamento completo de suporte avançado de vida.

EQUIPAMENTO A corporação leva 12 desfibrilhadores para os jogos – "o dobro do que é necessário", realça Jorge Fernandes –, entre os quais dois Lifepak 12 automáticos.

COMANDO Jorge Fernandes é o comandante dos BVL desde fevereiro de 2013. O filho Tiago é o 2.º comandante. São eles que lideram as operações nos jogos de futebol.

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