terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Carta para os Bombeiros Voluntários da Régua

O presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários da Régua,  José Alfredo Almeida, amávelmente fez-nos chegar  um texto de uma carta, que o Comandante  França de Sousa dos B.V.Lisbonenses dirigiu aos Bombeiros Voluntários da Régua,  publicada no jornal "Vida por Vida".em  Janeiro de 1966.


 José Alfredo Almeida  fez o favor de nos enviar o seguinte texto:


Ao vasculharmos os arquivos da nossa Associação não nos passou despercebida uma carta enviada pelo Comandante Tenente José Francisco França de Sousa, dos Bombeiros Voluntários Lisboneses, em 1966, ao director do jornal “Vida por Vida”, órgão oficial da AHBV do Peso da Régua.
Como, quando lhe chegou às mãos, essa carta não passou também despercebida ao Dr. Camilo de Araújo Correia, a quem fora amavelmente dirigida, que lhe reconheceu valor e interesse histórico para a divulgar nas colunas da primeira página do jornal. 
Na edição de Janeiro de 1966, com o sugestivo título “Bombeiros Voluntários Lisbonenses” é feita a transcrição integral dessa carta. E, numa pequena nota introdutória, muito pessoal e ao seu jeito e estilo, o director - ilustre médico e escritora infelizmente já falecido - lembrou que, pela satisfação que a tinha recebido, não resistia a tentação – assim mesmo – de a publicar.  
Os bombeiros da Régua são pioneiros a estabelecer relações institucionais com as associações congéneres. Faz parte dos genes da sua fundação. Entenderam desde os seus primórdios, que se tornava necessário conhecer o que se fazia de mais avançado nas associações mais preparadas e capazes e para conhecerem as novidades no combate aos fogos e no socorro às populações.
O jornal dos bombeiros da Régua, fundado em 1957, serviu de ligação a todos os bombeiros espalhados pelo país. Serviu para mostrar o exemplo que uma geração de homens lutava com paixão para manter, com a ajuda de beneméritos – os primeiros mecenas - vivo o associativismo e corpos de bombeiros mais preparados para as exigências do socorro às suas populações. 
Se, no passado recente, existiram contactos dos Bombeiros da Régua com os Bombeiros Voluntários Lisbonenses, o mais certo é terem acontecido em encontros entre os seus directores e seus comandantes. Leva a crer que os comandantes se terão conhecido numa das muitas reuniões ou congressos de bombeiros, para discutirem as preocupações e aspirações do sector, onde teriam participado em nome das suas associações.  
Na Régua, o Comandante Cardoso (1959-1990) fazia questão em participar nos debates que iam acontecendo pelo país sobre os desafios que os bombeiros voluntários, no final do 60, tinham pela frente, como a definição de regras ordenamento da sua actividade e a afirmação do associativismo no seio da sociedade de que emerge.  
Em 1968, os bombeiros voluntários da Régua participaram no congresso que teve lugar na cidade de Lisboa. A direcção da Associação, presidida pelo Eng. Abel Osório de Almeida (1966-67) e o Comandante Cardoso mandaram fazer um imprimir um folheto que, com uma mensagem de saudação, ofereceram a “todos os camaradas portugueses como nós neste XVIII Congresso Nacional, e fazem votos por que os seus anseios e as suas pretensões venham a ser estudadas para bem da causa que servirmos, o mesmo que dizer para bem de Portugal”, aproveitando para divulgar a Associação e promover o Douro e o seu “ Vinho do Porto - Orgulho de Portugal”.
Para a história dos bombeiros da Régua, a carta do Comandante Tenente França de Sousa é um precioso testemunho. Dá a conhecer a importância da Associação, reconhecida pelo seu progresso e crescente prestígio, presta uma homenagem ao seu valoroso Corpo de Bombeiros da Régua da década de 60 e faz um enaltecimento da figura do seu Comandante Cardoso, conhecido por viver os problemas da sua corporação como se fossem parte integrante da sua vida.  
Esta carta é também, como exprimia o director do jornal “Vida por Vida”, mais uma prova para demonstrar que “nesta cruzada de Coragem, Abnegação e Humanidade, também há ainda lugar para radicar e vincar amizades entre todos aqueles que sabe viver e compreender a missão a que devotamente nos entregamos”.
Apesar das distâncias que separam as duas corporações, os bombeiros comungam não deixam de comungar os mesmos ideais, a partilha de valores fraternos e um espírito de solidariedade nas suas causas  e na sua missão de fazer o bem. 
As palavras de gratidão do Comandante Tenente França de Sousa, servidor leal e competente, que deixou vivas marcas indeléveis nos Bombeiros Voluntários Lisboneses e na sua prestigiada Associação, este ano a comemorar o seu centenário, podem servir de motivo para aproximar as duas instituições, cheias de glorioso passado, numa união de vontades e conhecimentos dos desafios exigidos voluntariado do séc. XXI.   
Não queremos deixar esquecida a carta do Comandante Tenente França de Sousa que, pela sua importância história pessoal e colectiva, deve ser relida com a devida atenção, pelo que a melhor homenagem lhe prestamos,  agradecendo o seu nobre gesto, é de aqui deixar na íntegra a sua transcrição:
 

“Exmo Senhor
Director do Jornal “Vida por Vida” 
Apresentando os meus mais sinceros cumprimentos a V. Exª, venho gostosamente saldar uma dupla dívida, que desde alguns meses tinha para convosco.
A primeira, de agradecer o envio mensal do vosso jornal "Vida por Vida" para esta Corporação da Capital, que dista algumas centenas de quilómetros da vossa, atitude que sinceramente, tanto a mim, como aos 80 homens do meu Corpo Activo bem funda ficou gravada nos nossos corações e, que embora com o pouco contacto que tem existido entre estas duas corporações, me permite afirmar que é a única compreensível entre Soldados da Paz!
A outra dívida que tinha para convosco, é de agora lhe confessar quanto me satisfaz e aprecio verificar através do vosso jornal, como a Vossa Associação está em progresso e grande prestígio que ela tem dentro dos meios ligados à causa do Voluntariado, situação atingida mercê da acção dinâmica dos seus Corpos Gerentes e da muita dedicação dos seus valorosos elementos do Corpo Activo bem comandados por um comando que vive os seus problemas da sua Corporação, fazendo dela parte integrante da sua vida.
Para a briosa corporação nortenha do Peso da Régua, vai o meu apreço e abraço amigo dos vossos camaradas “Lisbonenses”, na certeza, que embora distantes, aqui sentiremos igualmente as vossas horas más que possam surgir, regozijaremos como os vossos momentos de esplendor, com as vossas alegrias, saudando pelo vosso progresso! 
Com os meus melhores cumprimentos, sou de V. Exª”. 

Hoje quando relemos esta carta sentimos orgulho no passado construído por esses notáveis homens que legaram para o futuro esse seu espírito de fazer cada vez mais e melhor para o engrandecimento e prestígio da Associação e dos seus bombeiros, inspirados nos ideais e valores consagrados pelo primeiro dos fundadores, o brioso Comandante Manuel Maria de Magalhães (1880-1892). 

José Alfredo Almeida

Foto 1- Cerimónia  no Quartel dos B.V.Lisbonenses, em 1969 com o Comandante.França de Sousa,na altura oficial da GNR a passar revista, à guarda de honra prestada pelos BVL,na rua Camilo Castelo Branco, com o então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, General França Borges- Foto do arquivo Fotog. da CML
Foto2 .O Comandante França de Sousa  retirada do jornal "Bombeiros de Portugal" nº257 de Fevereiro de 2008

*Nota-O Comandante França de Sousa,assumiu o Comando da A.H dos B.V.Lisbonenses em 1963





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